Peregrinar
é uma forma de procurar, de avançar, de olhar o horizonte essa linha onde a Terra e o Céu se tocam. Peregrinar é empreender
uma viagem. É também uma forma de olhar para dentro. Peregrinar é uma atitude tão antiga quanto a existência do Homem. Peregrina-se
em África, nas Américas, no Próximo no Médio e no Extremo Oriente. Peregrina-se na Europa. Todas as grandes religiões consideram
a peregrinação como uma via de conversão desde que empreendida com inquietação e espírito de busca.
As grandes
peregrinações cristãs são as à Terra Santa, a Roma, a Santiago de Compostela e, mais recentemente, a Fátima. Milhões de pessoas
peregrinam anualmente a estes locais considerados sagrados utilizando os mais variados meios de transporte: avião, barco,
comboio, automóvel e autocarro, bicicleta e motocicleta, cavalo e os próprios pés. A peregrinação a pé era, em tempos antigos,
a forma mais comum de peregrinar para os menos afortunados por ser a mais barata. A pé se faziam centenas de quilómetros,
ás vezes milhares, em viagens que duravam semanas e às vezes meses.
Também hoje
se peregrina a pé. Nalguns locais peregrina-se a pé pelas mesmas razões que antes mas muitas vezes e sobretudo na Europa peregrina-se
a pé porque se prefere caminhar. Por vezes ainda porque se fez uma promessa mas cada vez mais pelo simples e profundo desejo
de percorrer um caminho iniciático, com algum esforço físico e psíquico, superando dificuldades, aproximando-se do lugar almejado.
E sempre mergulhado no silêncio, pelos campos, olhando para longe e para dentro de si mesmo.
Em Portugal
muitas dezenas de milhar de pessoas peregrinam a pé anualmente. Vão a Fátima, a S. Bento da Porta Aberta, à Senhora da Peneda,
a Vila Viçosa e a tantos mais Santuários, quase sempre marianos. Vão também ( e não são poucos ) a Santiago de Compostela,
na Galiza. A Fátima vão mais de 50.000 todos os anos, número sempre em crescimento.
Uma grande
dificuldade enfrentam os peregrinos que viajam a pé: o transito automóvel que não só é extremamente perigoso como muito incómodo
devido ao ruído e, alem de incómodo, muito nocivo para a saúde devido aos gases dos escapes dos automóveis e, ainda, mais
dos camiões e autocarros. Alem disso caminhar no asfalto muitos quilómetros é penoso pela dureza do piso e no Verão pelo calor
que o mesmo transmite aos pés.
Por tudo
isto decidiu o CNC conceber um plano, a nível nacional, de identificação de caminhos alternativos às grandes estradas nacionais
de intenso transito automóvel que permitam aos peregrinos caminhar em segurança e em paz, desfrutando de belas paisagens,
gozando o silêncio. Sempre que possível os caminhos escolhidos são de terra batida e quando isso não é possível são pequenas
estradas rurais com escasso transito. Todos os caminhos estão sinalizados com marcos nos quais está indicada a direcção de
Fátima. Ao logo dos caminhos encontram-se aldeias, vilas e cidades onde se pode pernoitar, tomar refeições, e obter qualquer
tipo de assistência que porventura se necessite.
Neste momento
está operativo o caminho que de Lisboa leva a Fátima e que é chamado Caminho do Tejo. O Caminho do Norte que ligará o Porto
a Fátima está já delineado e até Maio de 2005 estará marcado com setas azuis que indicam Fátima e as amarelas, em sentido
oposto, indicando Santiago de Compustela. Esperamos que esteja operativo no próximo ano, Ano Santo Jacobeo, uma vez que este
caminho entronca no Porto num dos Caminhos Portugueses de Santiago o qual, por antigos caminhos medievais, une aquelas duas
cidades. A Associação dos Amigos do Caminho Português de Santiago, sedeada em Ponte de Lima, já sinalizou todo esse percurso,
cerca de 230 quilómetros, quer no sentido ascendente a caminho de Santiago, quer descendente a caminho de Fátima. Assim poderão
os peregrinos de Santiago vindos de toda a Europa continuar até Fátima (o que, aliás já acontece ás vezes) e os de Fátima
seguir para Santiago.
O CNC em
colaboração com as Selecções do Readers Digest editou um Guia de Bolso do Caminho do Tejo com todas as indicações práticas
necessárias para o peregrino a pé se dirigir em segurança por este caminho. Pode ser adquirido em algumas livrarias e também
na sede do CNC em Lisboa. Este ano ainda será editado pela E. N. Editorial Notícias um álbum sobre o Caminho do Tejo com fotografias
de António Homem Cardoso e texto de Lourenço de Almeida. Este álbum estará disponível em todas as livrarias e também no CNC.